sábado, 6 de agosto de 2016

DULCINEIA

Apenas uma lembrança velada pelo tecido de seus olhos, ela nao existia mais. Era a
imagem do que teria sido sendo o amor de um louco. Dulce nada sabia sobre sua inexistência. Pulsava  nas vísceras de seus pensamentos entorpecidos. O vinho molhava a cor de seus labios aguados. Era uma alucinação de mulher. Ele queria que ela fosse real. Talvez fosse, somente para ele. Ninguém nunca a enxergou. Era como o ar atravessando as veias do tempo. O vento escorrendo pela face. Pelas paredes sendo desmanchadas pela dor da erosão. Um dia foi se maquear. Era jovem outra vez. A pele enrrugada era novamente uma tez de veludo rosa. Uma mulher delírio enxergando seu reflexo nos olhos do espelho de seu amor. Enxergando seus olhos num sonho! Ali, na dor perene da madrugada fria, dentro de um lugar escondido num abismo, Dulcineia existiu por uma ultima vez. O homem morreu de tempo, e com ele todas as suas intraduzidas  humanas memórias. Medievais. Assim desapareceu Dulce para sempre, o casto amor de um verdadeiro Don. Um perfil deletado de uma esquizofrenica página virtual.

sexta-feira, 5 de agosto de 2016

BEATRIZ

A cor tinta de uma primavera de sonhos explodia nos nervos plácidos da folhagem do ipê. Era o pé de sua primavera sagrada, onde além de sonhos, plantava um sentimento para ser germinado nas raias inavegáveis do ainda amanhã. Uma quimera olímpica. Ela era apenas uma sublime e fantástica inspiração, e nada mais. Teria trocado sua fama póstuma na imortalidade daquelas letras mágicas por uma vida inteira agarrada no presente de seu amor. Mesmo que o inteiro fosse só uma metade. Beatriz conduziu seu amado ao paraíso, mas morreu terrivelmente só. Ele era um poeta da vanguarda submissa, nunca observado pelo nada além dos olhos de um mundo de ninguém, até que seus olhos o conduziram a uma fascinante e premiada combustão literária. Ela era uma mulher da luz interminável, e brilhava não  só apenas por corresponder a um sentimento maior que o mundo, mas por abraçar o mundo com seu interminável sentimento. Ele não  soube o que fazer com ela depois disso, nada além da solidão dos teclados mortos na violência das palavras vivas. Ela permaneceu esperando seu amor despertar e tomar a forma tenaz de um incólume guerreiro no parto do amanhecer. Esperou em vão. Ele se afundou sozinho na fama da poeira dos livros. Ela morreu entre a poeira da solidão e o paraíso do seu sonho. Um limbo de retaguardas inalcançáveis. Deixaram toda a esperança do lado de lá! Chorava letras e versos decorados quando envelhecida lia a obra mágica cujos lábios na ponta de seios imaculados num dia passado de verão, serviram não só ao tato do poeta assassinado, mas às filigranas da alma profunda da sua mortífera inspiração. E morria presa na contra capa do livro. Imortalizava-se a cada ausência de si mesmo nos outros infinitos desconhecidos. Vivia assim o resto dos seus dias pálida na frieza desprezível da arte enquanto ao mesmo tempo morria no calor divino da humana indiferença da trágica comédia da vida. 


quinta-feira, 4 de agosto de 2016

MARGUERITE

Uma princesinha resplandecente e bem educada. Havia nascido para ser a menina joia da família preciosa. Em sua débil constituição social, aos poucos, depois de alguns anos desse insistente cárcere moral, Marguerite havia se transformado na prostituta mais famosa da cidade. Sua família não entendia o que havia acontecido de errado. Cada um dos mil semblantes que haviam lhe visitado cuspiam um trocado promíscuo de algumas moedinhas no baú de seu interior húmido e fértil. Era uma putinha refinada porém barata. Fazia questão de não cobrar muito para não descriminar as diversas classes de sua deliciosa perdição. Ao mesmo tempo, não recusava pequenos incentivos vindos como vultuosas nunca desinteressadas doações. Depois de algum tempo, havia acumulado uma pequena fama e fortuna. Poderia partir com o sorriso estampado no clitóris. Sua mãe descabelava-se sempre ao visitar as páginas  da internet para espiar seus provocantes delitos.  Fingia que nada sabia. Era uma mulher religiosa e assexuada. Essas que apagam o fogo das entranhas com a delicada imagem da santa. Ironia amarga da vida. Mal sabia ela que o fetiche de Marguerite era penetrar-se com a virgem casta do seu altar. Sim, ela masturbava-se com a virgem Maria, ao mesmo tempo que era penetrada por uma fila de homens da degenerada cena burguesa do covil metropolitano social. Não haviam sobrado muitos. A família nunca sagrada jamais poderia compreender. Um anseio de liberdade oposto aos triviais e deformados valores de uma personagem emoldurada na frieza hipócrita das volúveis convenções dos talheres de três dentes e engomados colarinhos de vidro. Ela debatia-se feito uma cadela no cio ao mesmo tempo que alimentava a sádica ilusão de menina frágil. Era mais fácil para seus algozes enxergarem Marguerite como uma pobre coitada. E ela vestia a carapuça direitinho, amordaçada em sua bela cama das camélias... das margaridas, das violetas, das rosas defloradas... os copos transbordando de leite! E ria.... ria em orgasmos múltiplos e sucessivos. Ali todas as flores eram germinadas em sua delinquente e juvenil corola sexual. Quanto mais impingiam um controle, mais ela degenerava-se. O melhor era saber que existia um lugar que eles jamais iriam tocar. O seu mundo interior, onde a pequena Marguerite deleitava-se com suas perversões infindáveis. Um sorriso que eles nunca conseguiriam castrar. Um sorriso que eles nunca conseguiram compreender! Com o tempo esse ciclo vicioso de ácidos desejos escancarados era tudo que havia sobrado no cotidiano da rotina esvaziada. A puta virgem da família de um pobre mundo casto estava sufocada pelo tédio. Nada mais. Marguerite ainda ria, pois conseguia raspar do útero cinza autênticas gotas de felicidade colorida.  Por dentro gozava enquanto se fingia de morta. Estava acostumada a agir assim. Afinal, havia sido educada pelo sadismo velado da chama de uma vela de sete dias. Grossa e redonda. A medida certa para estimular sua prece genital. Sabia que o mundo era podre por dentro, mas tinha um sabor irreversível de fruta vermelha do pecado. Um belo dia, Marguerite partiu. Tinha cansado de ser uma puta rica e ociosa, vestindo o mal hábito de uma freira amarela e comportada. Ela havia decidido recomeçar. Iria sublimar essa chama ilibada do maçarico ereto das santas torturas religiosas e transformar sua perdição em um novo destino.  Almas livres rodopiando nas fogueiras eternas das mentirosas saudades. A carne finalmente havia se tornando imunda, porém o espírito ficou  mais leve. Prostituição no ofício do prazer. Dona de sua própria vagina, Marguerite no clamor de uma vida sempre surpreendente, no outro lado do mundo, apaixonou-se por um estudante de direito. Amarga ironia.  Morreu vítima de Aids. Uns dizem que foi a conjuntura dos fatos que a debilitou. Ela foi humilhada pelo pai do rapaz. Seu futuro sogro tinha sido um dos muitos frequentadores de seu inflamado apartamento. Quem diria!... do outro lado do mundo encontrou o amor na prole de um antigo cliente. A pretensiosa regenerada e a verdade atirada na cara do próprio filho. O pai jamais pôde admitir tal união. Era um dia cinza e chuvoso quando a vela se apagou. Diante de sua penumbra num quarto no terceiro andar, a imagem perdida da santa. Antes de morrer, Marguerite no seu mais profundo ser, deu um leve sorriso repuxado, lembrou-se de quando era menina, e com a textura viril das juntas de seus dedos longos, acariciou-se até o último suspiro enquanto falava com a mãe no telefone... “mãezinha, saudades de você... não se preocupe, está tudo bem comigo, fique em paz...Adeus!” Um dia ainda seria canonizada... mas muito, muito tempo depois de deixar essa incompreensível lembrança imaculada e pura, radiografada na indelével mancha para sempre livre na branquidão imensa do lençol.

quarta-feira, 3 de agosto de 2016

ODETTE

Um lago de lágrimas no cristalino virgem de seus olhos. Uma menina do interior encantada pela lábia peçonhenta de um velho ardiloso dono de uma agência de modelos. O velho truque do velho vigário dono de mortes lentas no descompasso de um mundo sem inocência  Ele prometeu que ela ganharia o mundo. Os cisnes mortos em seus congeladores de sonhos. Na geladeira de um lábio enterrado em carnes de funeral o velho prometia para suas meninas aquilo que sua pele desdenhosa e flácida sem o ardil jamais conseguiria obter. Odette deslumbrava-se com os píncaros falaciosos de um mundo estampado na fuligem dos jornais. Efêmero. Fugaz. O tempo passava sempre dentro de sua cabecinha sonhadora. Ela deixou a família para trás, os ossos enterrados na cor do estio eterno da roça. Deixou aquele pobre menino pobre demais para ser para sempre seu único amor. Ele teria para sempre sido. Mas Odette foi a isca do pesadelo de seu próprio sonho. Penteava-se com uma escova de cabelos arrancados do seu futuro. Quando percebeu era tarde demais. Estava já aliciada. O velho a trancou nesse mundo irreversível e enfiou a chave no rabo. A grande passarela da moda se resumia nas manchas de ferrugem espalhadas pelo lençol mais barato que uma vagabunda só conseguiria sozinha respirar para poder passar. Uma fachada de cobras comedoras de ratinhas brancas  cujo corpo afogado num lago de esperma dentro de um  travesseiro de falsas plumas coloria a tinta desgarrada do trauma e sua respectiva dor. A agência era uma deteriorada casa de prostituição. Os clientes apareciam geralmente bêbados. Velhos, gordos e nojentos. Despejavam suas doenças imundas nas peles amolecidas das tantas meninas mortas pelo sonho. “você vai ser famosa... vamos publicar seu rosto na capa da revista...” e a história se repetia. Odette tinha vergonha de ligar para sua família. Não conseguia ouvir a voz de sua mãe e dizer... “sim mamãe, está tudo bem comigo...” A cidade lhe engolia. O cheiro de mofo daquele cortiço na espelunca de um pardieiro de monstros. Era dia das bruxas quando o velho lhe avisou que teria que usar uma fantasia. Eles estavam decorando o lugarzinho para uma pequena festa íntima. Clientes na borra da nata da sociedade da fé com um azedado fétido leite... A fantasia incluía umas asinhas brancas e uma venda negra. Assim ela estaria bela outra vez. Rejuvenescida pelo lindo sonho pueril. “que coisinha mais linda...” o velho lambia sua boca cheia de baba cega e viscosa. Cabra morta no sacrifício de um jagunço comedor de fígados dourados. Ela estava com a venda nos olhos. Semi amarrada, disposta em cima de uma mesa central, baratinha, com algumas das outras meninas pobres, como se fosse uma fruteira no horror interminável de uma agonizante cornucópia. Viva a passarela fúnebre de um jato de esperma envaidecido! Sêmen perturbada. Os gozos escorrendo de suas entranhas adoentadas, exploradas. A gruta do inferno na caverna vaginal do paraíso.  As meninas entorpecidas. Cheiravam a brancura louca da coca. O velho contava as notas na mentira de suas mãos. “seu rosto vai sair em todas as revistas... nós vamos transformar você numa estrela”... e ria se masturbando escovando os dentes amarelos com os caninos priápicos do próprio gozo. E a festa aumentava seu frenético espermicida vulgar de um prosecco barato.  As bolhas voavam no bolor do metro quadrado da perfídia de um prostíbulo manipulador de vaidades desavisadas. Ele ria e ela chorava. Os tantos nojos lhe penetrando em cima da mesa de plástico. No cúmulo da desproteção. As meninas agarradas nas penas da fantasia. O globo cafona girava suas luzinhas de inferno. Era de dar pena. E o velho contava as notas. E Odette contava as lágrimas. Desesperada. Os sonhos uma vez sonhados e nunca realizados...deteriorados! Iria ser uma virgem puta e sonhadora pela última vez. Quando o velho foi desafogar seus flácidos alívios em seu humilhado interior, a venda se rompeu. Odette o encarou nos olhos. Viu que era ele o demônio da vez. Por um instante o velho corou. Ele sabia que ela sabia. Por um segundo, ela viu a face de seu modesto amor recrudescer na cor perdida da roça. Não hesitou. Cravou os dentes na pele e arrancou o pênis daquele homem com a boca. A festa acabou. Não me lembro o que aconteceu. Mas acho que um dos clientes acabou chamando a polícia.

terça-feira, 2 de agosto de 2016

JOCASTA

Castos os filhos de uma sociedade escrava pelos grilhões de uma pérola negra social. Eles eram castos e brincavam de escravos de Jó. O filho legítimo teria de ser sacrificado aos pés do morro. Mortos os irmãos fantasmas. Ela era exuberante e rica. O menino foi roubado na maternidade. Muitos anos se passaram. Jocasta tinha ido a uma noite de ópera com o estrondoso marido. Uma parcimônia industrial de um super valorizado mercado de ações. Magnata de uma vida de cristal de boemias no papel de um romântico trovador. A tragédia da noite extravasaria as bruxarias de uma vingança paga em nome da mãe.  Mulheres pagãs do desespero da fome, aglutinadas nas sarjetas das cidades, dançando com  o ventre os alimentos escassos de um ritual onde morcegos e ratos enfestariam o bojo do caldeirão. Suas pérolas brilhavam mais do que seu pescoço. Por uma fatalidade a escuridão insidiosas não revelou os olhos daquele pequeno diabo escondido atrás do poste. Atraído pelo brilho das pedras como a barbatana assassina dos mares vidrava-se com uma gota de sangue dispersa na imensidão das probabilidades  certeiras do oceano. Uma coincidência quanto mais impossível se tornava ao mesmo tempo que fatal a mais provável de acontecer. Entre todas as simultaneidades da vida, esse encontro seria o ultimato do próprio ser no topo dentro da cadeia alimentar de prisões invisíveis e carcerárias. As pérolas negras na luz da noite sobre a cheia transbordante de lá Luna. Voraz e intimidadora. Mágica persistente no clamor diabólico do fado. Seu marido, o magnata, apertava sua mão. Ele pressentia o bafo negro dos becos. Não era o local mais apropriado  para caminhar depois do enterro do sol. Não era o melhor lugar para terem fincado um teatro. No centro municipal da fome. Eles seriam esquartejados pelo destino. Presas fáceis fora da bolha a prova de balas de uma viatura blindada a prova de sonhos. Caminhava um pouco exaltado pela calçada, com pressa de atingir o estacionamento. Aqueles dedos tortos segurando a mordaça do gatilho atrás do poste. Silêncio. Tremia. “passa a carteira...anda...vai.. vai...” e um susto corou a pele magra do homem poderoso. Impotente. Pálido. Os olhos estrelados do bandido. Eles pularam para fora do corpo. Vomitaram as órbitas na cara. Para fora da própria alma. “o colar... eu quero o colar...”e a tensão esticava os cabos nos aços dos nervos do cão. Um estalo. Ele viu o homem colocando a mão no bolso. O tiro rompeu os tímpanos da madrugada. Jocasta berrou. Histérica para seu próprio infortúnio. Os olhos estalados da lua em sua cara. As pedras espalhadas pela calçada. Violência e estupro. Era a única forma de calar a boca daquela mulher. Uma vaca fora do pasto coberta por joias. Violando-a. Ao menos, era esse o jeito que a vida havia lhe ensinado. O casaco de pele morta ganhou vida. Sangue e uma calcinha arrancada pelos dentes de um pobre animal acuado. Assassino! Para seu desespero, ela viu a cor estatelada de seus olhos azuis. Os olhos do pai. A atávica medalhinha desaparecida em seu pescoço. Lembrou da noite de terror na maternidade. Os destinos trocados. Quando com suas próprias decepadas mãos colocava a medalhinha no pescoço enforcado de seu filho. Enforcada pelo agora. Os dedos tortos. Sobre o gatilho emperrado, soprando a pólvora de seu marido morto, ela estremecia. O sêmen de seu filho flutuando dentro da barriga. Não tinha mais dúvidas. O mesmo dedo do pai. A medalhinha desaparecida na noite trevosa do hospital. Jogada na sarjeta. Não restaria mais nada a fazer. O colar se partiu com o crime. Na esquina de uma noite do destino, aos prantos, ela lembrou o quanto esses anos todos, seu marido havia se utilizado de um mercado negro para existir... o quanto que sem nunca se importar, os dois foram coniventes com uma declarada exploração infantil.

segunda-feira, 1 de agosto de 2016

PENELOPE

A voz no silêncio enterrado sob o vazio de uma caixa na montanha. Todos os domingos pareciam iguais, mesmo que ela não fosse até o cemitério, o cemitério iria até ela. Enterrado dentro de seu peito os ossos de uma lembrança do que um dia teria sido o retrato do amor. Penélope aguardava sem saber do seu aguardo o retorno eterno do marido morto na guerra. Ela era da esperança a viúva. Ele, um  correspondente  de sentimentos escassos no agora desmanchado sobre a pele terrorista dos ventos.  Desapareceu como um rastro de sombra no filete amargo da luz. Não tinha notícias. Sequer uma carta. Nada. Suas pegadas haviam deixado marcas apenas na areia de seus pensamentos. A caixa era simbólica. Teria sido encomendada para ali se poder chorar. Um túmulo vazio cheio de vastas emoções. Cheio de vida. Ali ela havia depositado suas irrecuperáveis horas sentidas. Preencheu a ausência do corpo do marido com sua fidelidade quase doentia. Quase muda. Quase viva. As lágrimas eram as gotas de tempo escorrendo do relógio envelhecido na espera de um tecido preso na pele viva da cabeceira de sua cama . O tapete mágico de seu verdadeiro e único amor. Nessa tarde de domingo sóbrio o  sol escaldava um sorriso lacrimejado. Imune aos olhos de um novo pingo, não tinha mais dor para chorar. Começou a chover. Apenas um vazio deixado pelo rastro da época invencível, incontornável. Todos os mesmos domingos o astro se punha mais devagar, mais nefasto... A tortura flamejante no céu ... arrastando para debaixo da terra a recordação de um dia de felicidade sobre o altar caloroso da voz... do sim!!! Ela fiava, tecia, cosia sua expiação  no mutismo da memória surda aos apelos veementes dos mais diversos pretendentes seculares. A esperança dentro da caixa vazia afogava sobre as águas esse luto insuperável. Submersa dentro da terra, Penélope confundia os outros rostos com o mesmo desaparecido olhar infinito, carregado sobre a densidade da alma de tudo. No fim de tarde um corvo e uma andorinha se entrelaçavam na circular dança da vida. Eles eram talvez os  espíritos da solidão dispersos em seu peito cuja pele camuflada pelo tecido pulsante do jardim arrepiava os pelos das gramas e dos abetos inconscientes da vida viva em cima da terra.... O canto facínora da paz e sua verdadeira videira dos sonhos. No final, todas as pessoas se transformavam em árvores. As árvores grávidas de flores. Os sorrisos em grávidos passados. A gravidade da vida... da morte!  Na montanha e sua caixa Penélope habitava uma floresta sagrada. Todos os homens mortos na guerra dentro de nós. Eles floriam na pureza da cor. Um vento acariciou sua face. A silhueta de um homem só. E uma caixa... cheia de cinzas cor de sangue. O retorno amargo do fantasma de um rei insepulto. Penélope chorou depois de 20 anos. Finalmente seu filho voltou do nada carregando a urna silenciosa do último abraço do seu eterno pai.