sábado, 6 de agosto de 2016

DULCINEIA

Apenas uma lembrança velada pelo tecido de seus olhos, ela nao existia mais. Era a
imagem do que teria sido sendo o amor de um louco. Dulce nada sabia sobre sua inexistência. Pulsava  nas vísceras de seus pensamentos entorpecidos. O vinho molhava a cor de seus labios aguados. Era uma alucinação de mulher. Ele queria que ela fosse real. Talvez fosse, somente para ele. Ninguém nunca a enxergou. Era como o ar atravessando as veias do tempo. O vento escorrendo pela face. Pelas paredes sendo desmanchadas pela dor da erosão. Um dia foi se maquear. Era jovem outra vez. A pele enrrugada era novamente uma tez de veludo rosa. Uma mulher delírio enxergando seu reflexo nos olhos do espelho de seu amor. Enxergando seus olhos num sonho! Ali, na dor perene da madrugada fria, dentro de um lugar escondido num abismo, Dulcineia existiu por uma ultima vez. O homem morreu de tempo, e com ele todas as suas intraduzidas  humanas memórias. Medievais. Assim desapareceu Dulce para sempre, o casto amor de um verdadeiro Don. Um perfil deletado de uma esquizofrenica página virtual.

sexta-feira, 5 de agosto de 2016

BEATRIZ

A cor tinta de uma primavera de sonhos explodia nos nervos plácidos da folhagem do ipê. Era o pé de sua primavera sagrada, onde além de sonhos, plantava um sentimento para ser germinado nas raias inavegáveis do ainda amanhã. Uma quimera olímpica. Ela era apenas uma sublime e fantástica inspiração, e nada mais. Teria trocado sua fama póstuma na imortalidade daquelas letras mágicas por uma vida inteira agarrada no presente de seu amor. Mesmo que o inteiro fosse só uma metade. Beatriz conduziu seu amado ao paraíso, mas morreu terrivelmente só. Ele era um poeta da vanguarda submissa, nunca observado pelo nada além dos olhos de um mundo de ninguém, até que seus olhos o conduziram a uma fascinante e premiada combustão literária. Ela era uma mulher da luz interminável, e brilhava não  só apenas por corresponder a um sentimento maior que o mundo, mas por abraçar o mundo com seu interminável sentimento. Ele não  soube o que fazer com ela depois disso, nada além da solidão dos teclados mortos na violência das palavras vivas. Ela permaneceu esperando seu amor despertar e tomar a forma tenaz de um incólume guerreiro no parto do amanhecer. Esperou em vão. Ele se afundou sozinho na fama da poeira dos livros. Ela morreu entre a poeira da solidão e o paraíso do seu sonho. Um limbo de retaguardas inalcançáveis. Deixaram toda a esperança do lado de lá! Chorava letras e versos decorados quando envelhecida lia a obra mágica cujos lábios na ponta de seios imaculados num dia passado de verão, serviram não só ao tato do poeta assassinado, mas às filigranas da alma profunda da sua mortífera inspiração. E morria presa na contra capa do livro. Imortalizava-se a cada ausência de si mesmo nos outros infinitos desconhecidos. Vivia assim o resto dos seus dias pálida na frieza desprezível da arte enquanto ao mesmo tempo morria no calor divino da humana indiferença da trágica comédia da vida. 


quinta-feira, 4 de agosto de 2016

MARGUERITE

Uma princesinha resplandecente e bem educada. Havia nascido para ser a menina joia da família preciosa. Em sua débil constituição social, aos poucos, depois de alguns anos desse insistente cárcere moral, Marguerite havia se transformado na prostituta mais famosa da cidade. Sua família não entendia o que havia acontecido de errado. Cada um dos mil semblantes que haviam lhe visitado cuspiam um trocado promíscuo de algumas moedinhas no baú de seu interior húmido e fértil. Era uma putinha refinada porém barata. Fazia questão de não cobrar muito para não descriminar as diversas classes de sua deliciosa perdição. Ao mesmo tempo, não recusava pequenos incentivos vindos como vultuosas nunca desinteressadas doações. Depois de algum tempo, havia acumulado uma pequena fama e fortuna. Poderia partir com o sorriso estampado no clitóris. Sua mãe descabelava-se sempre ao visitar as páginas  da internet para espiar seus provocantes delitos.  Fingia que nada sabia. Era uma mulher religiosa e assexuada. Essas que apagam o fogo das entranhas com a delicada imagem da santa. Ironia amarga da vida. Mal sabia ela que o fetiche de Marguerite era penetrar-se com a virgem casta do seu altar. Sim, ela masturbava-se com a virgem Maria, ao mesmo tempo que era penetrada por uma fila de homens da degenerada cena burguesa do covil metropolitano social. Não haviam sobrado muitos. A família nunca sagrada jamais poderia compreender. Um anseio de liberdade oposto aos triviais e deformados valores de uma personagem emoldurada na frieza hipócrita das volúveis convenções dos talheres de três dentes e engomados colarinhos de vidro. Ela debatia-se feito uma cadela no cio ao mesmo tempo que alimentava a sádica ilusão de menina frágil. Era mais fácil para seus algozes enxergarem Marguerite como uma pobre coitada. E ela vestia a carapuça direitinho, amordaçada em sua bela cama das camélias... das margaridas, das violetas, das rosas defloradas... os copos transbordando de leite! E ria.... ria em orgasmos múltiplos e sucessivos. Ali todas as flores eram germinadas em sua delinquente e juvenil corola sexual. Quanto mais impingiam um controle, mais ela degenerava-se. O melhor era saber que existia um lugar que eles jamais iriam tocar. O seu mundo interior, onde a pequena Marguerite deleitava-se com suas perversões infindáveis. Um sorriso que eles nunca conseguiriam castrar. Um sorriso que eles nunca conseguiram compreender! Com o tempo esse ciclo vicioso de ácidos desejos escancarados era tudo que havia sobrado no cotidiano da rotina esvaziada. A puta virgem da família de um pobre mundo casto estava sufocada pelo tédio. Nada mais. Marguerite ainda ria, pois conseguia raspar do útero cinza autênticas gotas de felicidade colorida.  Por dentro gozava enquanto se fingia de morta. Estava acostumada a agir assim. Afinal, havia sido educada pelo sadismo velado da chama de uma vela de sete dias. Grossa e redonda. A medida certa para estimular sua prece genital. Sabia que o mundo era podre por dentro, mas tinha um sabor irreversível de fruta vermelha do pecado. Um belo dia, Marguerite partiu. Tinha cansado de ser uma puta rica e ociosa, vestindo o mal hábito de uma freira amarela e comportada. Ela havia decidido recomeçar. Iria sublimar essa chama ilibada do maçarico ereto das santas torturas religiosas e transformar sua perdição em um novo destino.  Almas livres rodopiando nas fogueiras eternas das mentirosas saudades. A carne finalmente havia se tornando imunda, porém o espírito ficou  mais leve. Prostituição no ofício do prazer. Dona de sua própria vagina, Marguerite no clamor de uma vida sempre surpreendente, no outro lado do mundo, apaixonou-se por um estudante de direito. Amarga ironia.  Morreu vítima de Aids. Uns dizem que foi a conjuntura dos fatos que a debilitou. Ela foi humilhada pelo pai do rapaz. Seu futuro sogro tinha sido um dos muitos frequentadores de seu inflamado apartamento. Quem diria!... do outro lado do mundo encontrou o amor na prole de um antigo cliente. A pretensiosa regenerada e a verdade atirada na cara do próprio filho. O pai jamais pôde admitir tal união. Era um dia cinza e chuvoso quando a vela se apagou. Diante de sua penumbra num quarto no terceiro andar, a imagem perdida da santa. Antes de morrer, Marguerite no seu mais profundo ser, deu um leve sorriso repuxado, lembrou-se de quando era menina, e com a textura viril das juntas de seus dedos longos, acariciou-se até o último suspiro enquanto falava com a mãe no telefone... “mãezinha, saudades de você... não se preocupe, está tudo bem comigo, fique em paz...Adeus!” Um dia ainda seria canonizada... mas muito, muito tempo depois de deixar essa incompreensível lembrança imaculada e pura, radiografada na indelével mancha para sempre livre na branquidão imensa do lençol.

quarta-feira, 3 de agosto de 2016

ODETTE

Um lago de lágrimas no cristalino virgem de seus olhos. Uma menina do interior encantada pela lábia peçonhenta de um velho ardiloso dono de uma agência de modelos. O velho truque do velho vigário dono de mortes lentas no descompasso de um mundo sem inocência  Ele prometeu que ela ganharia o mundo. Os cisnes mortos em seus congeladores de sonhos. Na geladeira de um lábio enterrado em carnes de funeral o velho prometia para suas meninas aquilo que sua pele desdenhosa e flácida sem o ardil jamais conseguiria obter. Odette deslumbrava-se com os píncaros falaciosos de um mundo estampado na fuligem dos jornais. Efêmero. Fugaz. O tempo passava sempre dentro de sua cabecinha sonhadora. Ela deixou a família para trás, os ossos enterrados na cor do estio eterno da roça. Deixou aquele pobre menino pobre demais para ser para sempre seu único amor. Ele teria para sempre sido. Mas Odette foi a isca do pesadelo de seu próprio sonho. Penteava-se com uma escova de cabelos arrancados do seu futuro. Quando percebeu era tarde demais. Estava já aliciada. O velho a trancou nesse mundo irreversível e enfiou a chave no rabo. A grande passarela da moda se resumia nas manchas de ferrugem espalhadas pelo lençol mais barato que uma vagabunda só conseguiria sozinha respirar para poder passar. Uma fachada de cobras comedoras de ratinhas brancas  cujo corpo afogado num lago de esperma dentro de um  travesseiro de falsas plumas coloria a tinta desgarrada do trauma e sua respectiva dor. A agência era uma deteriorada casa de prostituição. Os clientes apareciam geralmente bêbados. Velhos, gordos e nojentos. Despejavam suas doenças imundas nas peles amolecidas das tantas meninas mortas pelo sonho. “você vai ser famosa... vamos publicar seu rosto na capa da revista...” e a história se repetia. Odette tinha vergonha de ligar para sua família. Não conseguia ouvir a voz de sua mãe e dizer... “sim mamãe, está tudo bem comigo...” A cidade lhe engolia. O cheiro de mofo daquele cortiço na espelunca de um pardieiro de monstros. Era dia das bruxas quando o velho lhe avisou que teria que usar uma fantasia. Eles estavam decorando o lugarzinho para uma pequena festa íntima. Clientes na borra da nata da sociedade da fé com um azedado fétido leite... A fantasia incluía umas asinhas brancas e uma venda negra. Assim ela estaria bela outra vez. Rejuvenescida pelo lindo sonho pueril. “que coisinha mais linda...” o velho lambia sua boca cheia de baba cega e viscosa. Cabra morta no sacrifício de um jagunço comedor de fígados dourados. Ela estava com a venda nos olhos. Semi amarrada, disposta em cima de uma mesa central, baratinha, com algumas das outras meninas pobres, como se fosse uma fruteira no horror interminável de uma agonizante cornucópia. Viva a passarela fúnebre de um jato de esperma envaidecido! Sêmen perturbada. Os gozos escorrendo de suas entranhas adoentadas, exploradas. A gruta do inferno na caverna vaginal do paraíso.  As meninas entorpecidas. Cheiravam a brancura louca da coca. O velho contava as notas na mentira de suas mãos. “seu rosto vai sair em todas as revistas... nós vamos transformar você numa estrela”... e ria se masturbando escovando os dentes amarelos com os caninos priápicos do próprio gozo. E a festa aumentava seu frenético espermicida vulgar de um prosecco barato.  As bolhas voavam no bolor do metro quadrado da perfídia de um prostíbulo manipulador de vaidades desavisadas. Ele ria e ela chorava. Os tantos nojos lhe penetrando em cima da mesa de plástico. No cúmulo da desproteção. As meninas agarradas nas penas da fantasia. O globo cafona girava suas luzinhas de inferno. Era de dar pena. E o velho contava as notas. E Odette contava as lágrimas. Desesperada. Os sonhos uma vez sonhados e nunca realizados...deteriorados! Iria ser uma virgem puta e sonhadora pela última vez. Quando o velho foi desafogar seus flácidos alívios em seu humilhado interior, a venda se rompeu. Odette o encarou nos olhos. Viu que era ele o demônio da vez. Por um instante o velho corou. Ele sabia que ela sabia. Por um segundo, ela viu a face de seu modesto amor recrudescer na cor perdida da roça. Não hesitou. Cravou os dentes na pele e arrancou o pênis daquele homem com a boca. A festa acabou. Não me lembro o que aconteceu. Mas acho que um dos clientes acabou chamando a polícia.

terça-feira, 2 de agosto de 2016

JOCASTA

Castos os filhos de uma sociedade escrava pelos grilhões de uma pérola negra social. Eles eram castos e brincavam de escravos de Jó. O filho legítimo teria de ser sacrificado aos pés do morro. Mortos os irmãos fantasmas. Ela era exuberante e rica. O menino foi roubado na maternidade. Muitos anos se passaram. Jocasta tinha ido a uma noite de ópera com o estrondoso marido. Uma parcimônia industrial de um super valorizado mercado de ações. Magnata de uma vida de cristal de boemias no papel de um romântico trovador. A tragédia da noite extravasaria as bruxarias de uma vingança paga em nome da mãe.  Mulheres pagãs do desespero da fome, aglutinadas nas sarjetas das cidades, dançando com  o ventre os alimentos escassos de um ritual onde morcegos e ratos enfestariam o bojo do caldeirão. Suas pérolas brilhavam mais do que seu pescoço. Por uma fatalidade a escuridão insidiosas não revelou os olhos daquele pequeno diabo escondido atrás do poste. Atraído pelo brilho das pedras como a barbatana assassina dos mares vidrava-se com uma gota de sangue dispersa na imensidão das probabilidades  certeiras do oceano. Uma coincidência quanto mais impossível se tornava ao mesmo tempo que fatal a mais provável de acontecer. Entre todas as simultaneidades da vida, esse encontro seria o ultimato do próprio ser no topo dentro da cadeia alimentar de prisões invisíveis e carcerárias. As pérolas negras na luz da noite sobre a cheia transbordante de lá Luna. Voraz e intimidadora. Mágica persistente no clamor diabólico do fado. Seu marido, o magnata, apertava sua mão. Ele pressentia o bafo negro dos becos. Não era o local mais apropriado  para caminhar depois do enterro do sol. Não era o melhor lugar para terem fincado um teatro. No centro municipal da fome. Eles seriam esquartejados pelo destino. Presas fáceis fora da bolha a prova de balas de uma viatura blindada a prova de sonhos. Caminhava um pouco exaltado pela calçada, com pressa de atingir o estacionamento. Aqueles dedos tortos segurando a mordaça do gatilho atrás do poste. Silêncio. Tremia. “passa a carteira...anda...vai.. vai...” e um susto corou a pele magra do homem poderoso. Impotente. Pálido. Os olhos estrelados do bandido. Eles pularam para fora do corpo. Vomitaram as órbitas na cara. Para fora da própria alma. “o colar... eu quero o colar...”e a tensão esticava os cabos nos aços dos nervos do cão. Um estalo. Ele viu o homem colocando a mão no bolso. O tiro rompeu os tímpanos da madrugada. Jocasta berrou. Histérica para seu próprio infortúnio. Os olhos estalados da lua em sua cara. As pedras espalhadas pela calçada. Violência e estupro. Era a única forma de calar a boca daquela mulher. Uma vaca fora do pasto coberta por joias. Violando-a. Ao menos, era esse o jeito que a vida havia lhe ensinado. O casaco de pele morta ganhou vida. Sangue e uma calcinha arrancada pelos dentes de um pobre animal acuado. Assassino! Para seu desespero, ela viu a cor estatelada de seus olhos azuis. Os olhos do pai. A atávica medalhinha desaparecida em seu pescoço. Lembrou da noite de terror na maternidade. Os destinos trocados. Quando com suas próprias decepadas mãos colocava a medalhinha no pescoço enforcado de seu filho. Enforcada pelo agora. Os dedos tortos. Sobre o gatilho emperrado, soprando a pólvora de seu marido morto, ela estremecia. O sêmen de seu filho flutuando dentro da barriga. Não tinha mais dúvidas. O mesmo dedo do pai. A medalhinha desaparecida na noite trevosa do hospital. Jogada na sarjeta. Não restaria mais nada a fazer. O colar se partiu com o crime. Na esquina de uma noite do destino, aos prantos, ela lembrou o quanto esses anos todos, seu marido havia se utilizado de um mercado negro para existir... o quanto que sem nunca se importar, os dois foram coniventes com uma declarada exploração infantil.

segunda-feira, 1 de agosto de 2016

PENELOPE

A voz no silêncio enterrado sob o vazio de uma caixa na montanha. Todos os domingos pareciam iguais, mesmo que ela não fosse até o cemitério, o cemitério iria até ela. Enterrado dentro de seu peito os ossos de uma lembrança do que um dia teria sido o retrato do amor. Penélope aguardava sem saber do seu aguardo o retorno eterno do marido morto na guerra. Ela era da esperança a viúva. Ele, um  correspondente  de sentimentos escassos no agora desmanchado sobre a pele terrorista dos ventos.  Desapareceu como um rastro de sombra no filete amargo da luz. Não tinha notícias. Sequer uma carta. Nada. Suas pegadas haviam deixado marcas apenas na areia de seus pensamentos. A caixa era simbólica. Teria sido encomendada para ali se poder chorar. Um túmulo vazio cheio de vastas emoções. Cheio de vida. Ali ela havia depositado suas irrecuperáveis horas sentidas. Preencheu a ausência do corpo do marido com sua fidelidade quase doentia. Quase muda. Quase viva. As lágrimas eram as gotas de tempo escorrendo do relógio envelhecido na espera de um tecido preso na pele viva da cabeceira de sua cama . O tapete mágico de seu verdadeiro e único amor. Nessa tarde de domingo sóbrio o  sol escaldava um sorriso lacrimejado. Imune aos olhos de um novo pingo, não tinha mais dor para chorar. Começou a chover. Apenas um vazio deixado pelo rastro da época invencível, incontornável. Todos os mesmos domingos o astro se punha mais devagar, mais nefasto... A tortura flamejante no céu ... arrastando para debaixo da terra a recordação de um dia de felicidade sobre o altar caloroso da voz... do sim!!! Ela fiava, tecia, cosia sua expiação  no mutismo da memória surda aos apelos veementes dos mais diversos pretendentes seculares. A esperança dentro da caixa vazia afogava sobre as águas esse luto insuperável. Submersa dentro da terra, Penélope confundia os outros rostos com o mesmo desaparecido olhar infinito, carregado sobre a densidade da alma de tudo. No fim de tarde um corvo e uma andorinha se entrelaçavam na circular dança da vida. Eles eram talvez os  espíritos da solidão dispersos em seu peito cuja pele camuflada pelo tecido pulsante do jardim arrepiava os pelos das gramas e dos abetos inconscientes da vida viva em cima da terra.... O canto facínora da paz e sua verdadeira videira dos sonhos. No final, todas as pessoas se transformavam em árvores. As árvores grávidas de flores. Os sorrisos em grávidos passados. A gravidade da vida... da morte!  Na montanha e sua caixa Penélope habitava uma floresta sagrada. Todos os homens mortos na guerra dentro de nós. Eles floriam na pureza da cor. Um vento acariciou sua face. A silhueta de um homem só. E uma caixa... cheia de cinzas cor de sangue. O retorno amargo do fantasma de um rei insepulto. Penélope chorou depois de 20 anos. Finalmente seu filho voltou do nada carregando a urna silenciosa do último abraço do seu eterno pai.  

domingo, 31 de julho de 2016

HELENA


Uma beleza atroz de cortar os pulsos. Homem no mundo  suportava sustentar uma vida ao seu lado. Deveria ficar confinada dentro daquelas quatro paredes. Apodrecendo. Vivia  no  interior de muralhas cuja queda prescindiria por pouco seu tão esperado envelhecimento. Feia e velha poderia voltar ao mundo. Não  incomodaria mais ninguém. Ela pagou o preço por ter um interior correspondente a sua pele. Era boa e interminavelmente bela. Nada recatada para sua desgraça. Talvez não  fosse tão espontaneamente justa. Não  sempre. Mas afinal, era apenas uma mulher num mundo onde até os deuses são desumanos. Helena vincava a dor de ser tão ou mais solitária em apenas um reflexo do seu triste espelho perdido na cabeceira. As belezas deveriam ser mudas. Essas tinham o direito de viver a vida das homenageadas do lar. A terra dos mancos de face. Uma feiura podre reinava numa misericórdia fingida da sociedade da compaixão mesquinha. Egoísta. Falsa. Desesperados para gozarem com o próprio falo, condenavam qualquer lábio que se desse o direito de possuir os homens pela cabeça e ao mesmo tempo pelo coração. Essas seriam as bruxas nas fogueiras santas...digitais impressas na armadilha manjada da rede de um simbólico marido horroroso e aleijado. Helena ardia em labaredas de mortos enfileirados no seu jardim. Todos sorrindo do outro lado da margem com binóculos fálicos e espúrios. As lentes dos famigerados insatisfeitos. Esqueletos vivos, com as peles descascadas. O povo das deformações. Como era horrível ser bela num mundo de horrores. Como era violento enraivecer os vermes por características imutáveis, que nada na vida conseguiria negar. Se ao menos fosse uma porta, poderia abrir-se para fora da muralha. Mas a translúcida luz perpassava todos olhos na pele de sua escancarada janela como um raio no céu meteórico do reino absoluto do sol. Solo para morrer em retaguarda na trincheira vazia. Sem guerra...sem paz! Helena na lenda do dia sem fim.  Solo despovoado e raízes fecundas. Fenomenais. Feéricas.... Era esse seu solilóquio estelar. As estrelas condenadas a nascerem e morrerem só. Na distância de uma poeira alheia, intergaláctica, espacial, Helena brilhava fria dentro das muralhas de sua prisão. Morta por antecipação da vida radiosa. Ela rasgava os versos do sorriso delineado na dor vermelha do batom. Era sua própria escultura e aprendia a satisfazer-se com o desprezo que tanto lhe ensinaram. Desprezava a possibilidade de saída. O labirinto se fechava em torno de seus músculos bem formados. Seios lácteos na via do universo perfeito. Ela deveria morrer envenenada de si mesma. Esse foi o veredicto dos deformados sorridentes. Assassinos socráticos do mais belo dos filósofos. Impecáveis. Se ao menos soubesse, teria uma vez no passado se fingido de muda. Uma cadela morta... bem adestrada, essas que batem palma no comício do circo Vostok! Mas agora era tarde demais. A inconfundível voz da sua beleza já havia singrado os quatro cantos do mundo. Beleza mortal. Depressa deveria morrer. Podre e sozinha. Era um sádico jogo de percepções mútuas e tácitas. Onde o fora fingia não  olhar para dentro e vice versa. Os tijolos de vidro de sua muralha mágica. E o dentro sorria. E o fora sorria de volta. Cada um no limite árduo de seu próprio flagelo. Os frutos apodreceriam antes das flores. As flores nasceriam mortas. O mundo não  os conheceria.. seus belos filhos...! Helena somente enlouquecia na sobriedade de uma resistência insípida. Lentamente, como eles haviam planejado, sem sequer notar! Nenhuma guerra seria travada por sua alma. Nenhum herói iria morrer por ela. Sequer um único cavaleiro fantasma... os simulacros de iscas eram apenas provocações para apressar ainda mais sua partida onde tão esperado alívio seria brindado com um suspiro comum. Até que no meio dia crepuscular, o esperado aconteceu. Ela achou que ele tinha aparecido. Narciso hercúleo e o resgate fatal. Por engano, fazia amor com o espelho da cabeceira. Que cavalo!!! Mal criado...Mudo. Gritava.... com a explosão de sua contida ferocidade orgástica ele partiu no meio. O sangue de seu pulso aberto pelo vidro escorria serenamente pelos degraus inalcançáveis da muralha estendida sobre o tapete mórbido no  zoológico na escada....e da poça vermelha de sangue diz a lenda que brotou um cavalo mágico com asas...

sábado, 30 de julho de 2016

AASE

Um eucalipto rasgava os tormentos do barraco de papelão. Papeis mortos na sarjeta de uma deploração ocidentável. Acidentes conglomerados nos paralelepípedos um dia antes da fome ser satisfeita nos paralelos de um meridiano sem mundo. Ela havia dedicado a vida para o menino. O morro e Pedro. Seu filho agora tinha se perdido em suas vielas... à Aase não restava nada mais além dos recortes de uma solidão impressa no lixo voador. Circo de um país dançante. Arena de bastidores ignorantes e larápios comedores de sucata humana. Eles venceriam as próximas eleições… os pesadelos disformes do medo daquela mulher. Uma mãe deplorável. Ainda teve que escutar algo como “a culpa foi sua… quem mandou me colocar no mundo”… filhos mendicantes ou chefes do tráfico?... de pessoas, de almas descartáveis, de vícios mesquinhos, de prazeres moribundos, os olhos mortos repetindo-se ad eterno na página do jornal… uma fogueira de papel para esquentar as suas duras mãos. Era o frio rasgando as paredes de jornal do amotinado de recicláveis abrigos favelados. Eles comiam lixo para poderem voar. Os urubus da sarjeta… eles tinham um coração de homem, e uma dor sensível de abandonada criança. Asas negras da escuridão da noite vazia. O eucalipto surgia do meio da sala. Se é que aquela latrina pudesse usufruir de alguma classificação imobiliária. Seus olhos esparramados com o fogo chamuscado dessa noite de frio. Aase chorava seu filho desregrado. Ele havia se perdido no morro.  Condenado ao exílio, resolveu armar-se para destruir suas presas do passado. Selvas depredadas no meio da pedra no caminho. Tinha uma pedra no meio do cachimbo... no meio do cachimbo tinha uma...Selva! Todos esses silêncios não passavam mais. Não falavam mais. Não choravam mais. Um arame farpado enroscado na dor do muro. Um pneu de bicicleta agarrado no carrinho de milho. Um tênis podre desmanchando-se na fiação elétrica. Eram pedaços humanos apodrecendo no mundo. Ninguém estaria lá. Nem mesmo seu filho. Nem mesmo Deus. Os ratos sorriam nas cartas marcadas do baralho. Os ases do morro só. Pele de um sofrimento atroz. Por que nasceram assim? Esses detritos da humanidade. Ela olhava para o reboco de uma lágrima e escorregava as mãos pela flanela de seu vestidinho. Tremia sem sequer perceber. Os trapalhões sorrindo na parede. Uma estação perene de inverno sem luz. A garrafa de coca cola esmagando a aridez do asfalto. Ela sobrevivia no deserto da cidade. Morta. Parada. Encostada no eucalipto de seu barraco. Como era linda a potência viva da árvore. Por um instante tudo parecia viver sem dor. Quando aquelas folhas atingiam o céu. Arranhavam o azul do lar eterno. Por um instante tudo parecia natural. As costelas de um cachorro na pele dos homens. Magros e infelizes. Ele não iria voltar mais. Morreu com um chumbo na cicatriz pulsante do coração. A mãe dormia no frio, e na esperança de um dia, logo, conseguir ser tudo menos invisível... aprender como nesse mundo de cão, ela poderia falar com os mortos.  

sexta-feira, 29 de julho de 2016

VIOLETA

De uma ária talhada pelos golpes de um cinzel obcecado, nasceu os lábios intermináveis de um vermelho pungente na beleza de um rosto machucado pelos excessos incontornáveis da vida. Violeta estava plantada numa cama, enquanto os pensamentos escorriam pelo paladar da sua memória. Ainda sentia o gosto de como tinha sido existir no amargo áspero de uma morte consequente, quase compensatória e bastarda! Morreria mais jovem do que parecia. As estradas dos vincos deixavam um sorriso amargo de doce inegável experiência. Na jardineira de sua cama hospitalar floria as últimas pétalas de seus turbulentos dias. Era uma mulher incomensurável. Sua coragem transbordava pelos cubículos atrofiados nas moléculas de ar. Coragem de viver as últimas consequências de seu idolatrado desejo. O ar da paixão nos tijolos soltos da carne. Compensado, comprimido, carregado pelos dias inacabados de orgias sem fim. Uma cortesã do fim dos tempos. Amava por prazer, deliberadamente, e exercia uma sedução atroz em si mesma diante dos intermináveis estímulos de uma voracidade infindável. Era uma estrela pendurada nos brilhantes noturnos do céu. Uma ninfomaníaca declarada. Não haveria uma noite que sua carne molhada não regurgitava os líquidos mais poéticos de uma anônima humanidade perdida na seda de seus vultuosos lençóis. 500 fios de navalhas... a barba áspera raspando os contornos de seus lábios. Grandes, inflamados, rubros de um  rubor inconfessável porém explicito, inegável... insaciável toque de sublime perfeição! Seus cabelos escorriam pelos quadros das memórias vivas nas paredes de dentro daqueles homens incontáveis. Uma colecionadora violenta. Dicotomia de sua lasciva destreza fatal e essa perturbadora  meiguice transbordando pelos poros. Decidiu acender um cigarro enquanto tragava seus nostálgicos pensamentos perfumados. Libidinosos versos escorrendo pelo molhado tecido do papel da parede dentro de um quarto. Um sopro de eternidade fugaz a cada ressureição do cosmos quando explodia. Sua respiração era uma catarse eólica na tempestade líquida dos efeitos absolutos da carne. Uma gota de orvalho surgia de seus pulmões, transpirava no vidro do banho... a lua chorava uma serenata entre a languidez de suas irretocáveis pernas e o grave no compasso ancestral em percussão na maestria de seus seios. Um suor viscoso gotejava dos pulsos seminais. Arrancados pelo salto alto em cima da fagulha de um isqueiro na chama escarlate do batom. Tinha uma orquídea violeta impressa em seus olhos de favos e fel. A fumaça do cigarro no réquiem do hospital. Ela jamais pensou que poderia ser tão irônico esse mecanismo bárbaro conhecido como viver. O pêndulo das transformações obsoletas, imutáveis. No meio das festas de seu pequeno covil com cheiro de ninho ela havia conhecido um homem. “Jamais serei mãe”, atestava ela, “não nasci para sentir o peso de um ventre vivo dentro de mim...”... e tragava as fumaças rarefeitas do erotismo subliminar escancarado em seus contornos reforçados pela própria aura vermelha de potestade incontrolavelmente livre. Escrava de uma gota só. Tácita escravidão da liberdade. E regozijava-se com os toques superficiais dos muitos rostos sem faces encarados no reflexo imperscrutável da escuridão. As notas eram enrolada para serem perdidas ao sopro da inalação. Bocas anestesiadas juntas debaixo do mesmo teto. As goteiras do infinito dentro de todos nós, elas vazavam para fora dos olhos dessa mulher. Hipnóticos, narcóticos, eróticos... espremida contra a própria parede de sua pele, não cabia mais dentro de si mesma quando estava impotente diante daquele forasteiro cavalar. Seu amor por esse homem era o caule ponte da corola de sua perdição. Era evidente. O gosto do homem absoluto vazando por sua boca. Costurando as entranhas de suas mais decentes perversões. O cheiro de um faro com sabor de deliciosa incontrolável submissão. Ele havia domado as vísceras rebeldes de uma mulher indomável. Ela sempre o tratou feito um cachorro. Um cão sem diabo. Um canil sem dono. Uivava lágrimas de desesperado cio a flor da pele. Violeta, roxa de tanto apanhar. Não existia nenhum outro como ele. Sequer teve opção de escolher. Ela era sua. Queria ser pisada pelo peso incontestável do gigante dentro daquele homem fincado no útero da terra. Suas raízes brotavam pelas pétalas desfolhadas de seu desejo. E com isso, crescia por ele um ódio nutrido de incontestável amor. Jamais poderia se subjugar dessa forma. Aquela criança nunca iria nascer. Violeta carregava um filho do forasteiro misterioso. E junto o medo de ser algo maior do que o objeto confortável e previsível de si mesma. O aborto nas membranas do sonho. O estrangeiro ao saber de sua  implacável decisão resolveu desaparecer para todo o resto do amanhã. Decisão terminativa e incontornável. Violeta desapareceria como um trago de seu último cigarro esbanjado a esmo no solitário leito de sua morte acidental. Complicações inimputáveis de um estúpido erro médico. O último trago, os seus beijos violados, seu caixão boiando numa piscina cheia de mortos. O mais engraçado, é que depois de tudo, eles conseguiram salvar a criança.

quinta-feira, 28 de julho de 2016

MORGANA

Era uma fada de avental no uniforme costurado de um simples balcão. A magia tinha se consumido, porém sua ancestralidade cigana ainda brilhava na lente opaca de um óculos de lentes bifocais. Ela trabalhava numa loja de óculos, e vendia lentes no colorido da armação. Armaria num só golpe de um destino frustrado um novo começo de um fim repartido sempre nas 40 horas semanais. Estava tudo igual no cemitério ocular dos vivos míopes de fantasia. Morgana costumava ler as cartas de um tarô herdado da fada mãe, como as runas e a borra de café. Mas nos arredores dos dias últimos não lia sequer seu feitiço escorrendo pelo cilho deprimido. Lágrimas descartadas do baralho dos jogos de azar. Um lábio meigo porém vincado pela seca do verão passado enfeitava seu rosto como um pingente marinho adormecido no fundo do mar. Sempre um dia atrás da ultima estação, seus olhos não lembravam mais como poderia fazer para transformar a loja numa tenda de sonhos vivos. Tinha perdido sua mágica no meio do caminho, e por mais que tentasse reviver seu poder de visão a cada cliente perdido nos olhos vítreos do ocultismo comercial, tudo não passava de um amarelo sorriso mal feito atrás do silêncio falante do carnívoro balcão. As vezes chorava para dentro, quando estava quase para finalizar uma venda, temendo que uma lágrima inconveniente e indomável pudesse arruinar as tantas muitas migalhas do passivo de sua suada comissão. Era algo que não podia controlar, e como um vento passando pela tarde morna, simplesmente surgia sem aviso, essa lágrima broto nascente do canto deserto dos olhos ainda vivos. Um lago profundo por trás das lentes rasas. O olhar por trás da suspensão cristalina sobre hastes assassinas. A haste como apoio da distorção em olhos enxergando apenas o visível suportavam o cabresto de pálpebras escondendo um abismo por demais insondável. Era o seu próprio mistério no assassinato de sua imprevisibilidade. O mistério de não haver mais mistério... como ainda poderia expressar sua comiseração por uma maga presa no corpo solene de uma aprazível vendedora de óculos? Não enxergava seu próprio fim , enaltecendo sempre as horas do fim do expediente. Nem sequer mais o licor das pingas intempestivas tragava sem dó. A dó quando o não de sim mesma. O cigarro também não fazia mais parte de sua solene deterioração. Uma cigana deformada pela continuidade do tempo castrador. Vivia a deformação dos dedos enrugados no desgaste de um tédio senil. Era jovem porém envelhecida. Era meiga porém amargurada. Era livre no mundo, porém prisioneira do fado. Somente havia tempo para resguardar o próximo dia sem tempo numa rotina interminável. Queria ler as mãos delicadas de cada cliente de sua tenda nas entranhas de uma loja. Não podia, era contra o protocolo. Não podia tocar nas mãos de seda daquelas pessoas de tecidos mágicos e orgânicos. Os rostos coloridos das mil faces por trás de uma medíocre intenção consumista. Sonhos se evaporavam conjuntamente a cada gole do outro invencível em sua frente, impenetrável, intempestivo, impossível! Anacrônicos desencontros perfeitos. Cada segundo para além do presente descartado era um corte na retina de seu destino. Um premonitório sonho falante tinha lhe dito que sua mágica havia sido roubada por uma bruxa, e somente furando os olhos da falsa aparição ela poderia reaver seu livre encanto pela liberdade da vida. Não podia mais continuar. Teria que voltar a enxergar através da simplicidade do toque. Não poder tocar aquelas tantas mãos lhe cegava o tato da alma visionária. Ela lembrava que um dia tinha amado. Lembrava que tinha lido suas próprias mãos diante de um espelho mágico antes de entrar para a loja do horror. No dia dos vaticínios próprios ela foi avisada que não deveria entrar para um labirinto sem saída. Todos os labirintos poderiam ser vencidos desde que haja uma saída. Naquele não havia. Não havia portas, sequer paredes, muros, curvas, arcabouços, tetos, janelas, buracos, vielas, contravenções... Nada, não havia nada em torno dessa elipse existencial. Eclipse dos sanatórios comuns disfarçados de simples cafezinhos no fim apocalíptico da tarde eterna. Apenas uma loja vazia cheia de óculos caros e bem acabados. Não podia mais ver o final da história sem enxergar os outros morando sobre cutâneos da pele ardida do seu desejo ressentido. Os milagres do subterrâneo. Foi nesse último dia de verão que Morgana transcendeu o narcótico efeito da onírica paralisia. Um instante antes de finalizar a venda, ela tremeu.  A haste na metamorfose da faca. O sonho e sua terrível libertária voz. Era uma semente do pesadelo de não viver outra vez. A última cliente. Não havia como voltar mais atrás. Seria um novo começo numa outra possível libertadora prisão. Um grito, e uma socialite cegada pela fatal e intuída explosão. Morgana sem reprimir-se, enfiou cegamente aquela haste YSL nas profundezas das carnes do olho de uma cliente misteriosa, enfeitada por joias e plumas de faisão, que nas colunas sociais, era vulgarmente conhecida como “ a feiticeira”.... um grito de liberdade, óculos novos nos sonhos mórbidos apodrecidos atrás das grades, e uma algema no pulso livre para quebrar a rotina, destruir uma determinada visão e terminar um pouco menos sem graça com a desgraça do fim do expediente...